22/11/09

O QUÉNIA NO SEU MELHOR

Um destes dias cheguei a casa feita num oito, como se diz na minha terra :). Tinha andado um bom bocado a pé e cheguei a casa cheia de dores na perna e na coluna e atirei-me para o sofá a ver se a coisa passava. Nisto chega a Lucy para a sessão de limpeza e mal eu lhe digo porque estou tão quietinha, ela não tem meias medidas: saca um frasquinho da carteira, levanta-me a saia e massaja-me violentamente a perna, isto sem eu ter tempo, nem para dizer “Ai!”. Muito rapidamente põe-me ao corrente dos efeitos milagrosos do líquido no frasquinho. “Isto é tiro e queda, cura tudo” e a seguir vieram dois ou três exemplos de mazelas desaparecidas em familiares e amigos próximos, tudo, graças ao miraculoso produto (cá para nós, com uma inquietante cor amarela!).
Peço-lhe então para ver o frasquinho e leio o micro rótulo a ver se descobria o princípio activo da coisa. Basicamente o que dizia, em vez da composição era o seguinte “Este medicamento é milagroso e actua através do Espírito Santo. Caso não fique curado é porque não tem fé suficiente.”
Claro está, que a coisa só passou com uma bela dose de anti-inflamatórios, uns medicamentos muito mais democráticos, que tanto curam crentes como descrentes.


Fiz um curso prático de Psicologia e Aconselhamento infantil, muito interessante mas sofri um choque cultural violento logo na primeira sessão. Pouco depois das apresentações, pediram-nos para fazer uma lista de “Regras da sala de aula” (lembro que éramos todos adultos, formados e profissionais). A Lista de regras era infindável e, por vezes, contraditória. Não se podia interromper a aula, mas devíamos participar activamente, devíamos limitar os nossos movimentos (não sei mt bem a quê), tivemos de eleger uma espécie de delegado de turma e tínhamos de nos respeitar uns aos outros. No entanto, no momento seguinte dei por mim a assistir a uma discussão acesa sobre quantas vezes por dia deveríamos rezar durante a formação. Disse bem, não era se devíamos rezar, mas quantas vezes e a grande maioria inclinava-se para o número 5 (à chegada, antes de cada intervalo, ao almoço e à saída). Eu acho que fiquei um bom tempo paralisada a tentar perceber o que se passava até que não aguentei mais e apelei ao meu direito de não rezar ao senhor vez nenhuma. “Vocês rezem as vezes que quiserem, mas não esperem que toda a gente partilhe o mesmo sistema de crenças. Eu não rezo e quando vocês rezarem eu vou lá fora tomar um cafezinho”. Surpreendentemente, a única pessoa não africana que lá estava, uma rapariga argentina, apressou-se a dizer que me fazia companhia.

Hoje vinha do Centro de Rebilitação e uma colega de lá passou num centro comercial e parou para perguntar a que horas fechava ao domingo. Quando lhe perguntei que lugar era aquele, disse-me que era o centro comercial das Nações Unidas. Ou seja, os funcionários para além de receberem principescamente e terem regalias sociais do outro mundo, imunidade diplomática e uma polícia só para eles, também têm uma espécie de department store só deles totalmente tax free.

1 comentário:

Fernanda disse...

Te cuida cara amiga!
Um beijinho