Parece que se trata de brincadeiras mas, infelizmente, são questões muito sérias. Na sequência dos conflitos pós-eleitorais em 2007, os líderes dos dois principais partidos resolveram a questão com a criação de uma coligação governamental encabeçada por dois homens, o actual presidente Kibaki e o actual primeiro ministro Raila Ondinga. Mas a convivência dos dois tem sido difícil. Entre conflitos de interesses, protagonismos, favoritismos e escândalos financeiros e pessoais, o Quénia vive na iminência de o governo cair e serem convocadas eleições antecipadas. Não me lembro de dia nenhum em que os jornais não apresentem grandes cabeçalhos sobre a crise da coligação. É um verdadeiro jogo do Mata, aquele que estes dois senhores jogam, a ver quem morre primeiro. O problema é que o país ainda não recuperou da violència pós eleitoral, ainda não se pacificou nem se reconciliou e o fantasma dos conflitos étnicos, aguçados pelo perverso jogo destes dois políticos, pairam como uma ameaça constante à paz e à democracia.
Tudo piora quando se recorre a estratégias absurdas para alimentar este jogo e entreter o povo. Durante a última semana, o país viu-se mergulhado numa verdadeira Guerra dos Sexos, quando um grupo de mulheres ilustres anunciou a Greve do Sexo durante uma semana, como forma de protesto de todas as mulheres do Quénia contra a instabilidade da coligação. Também parece uma brincadeira, mas infelizmente não é. Durante uma semana, o Kibaki e o Ondinga (cuja própria senhora veio a público dizer que nessa semana o primeiro-ministro seria privado dos seus"direitos conjugais") viram as atenções centrarem-se naquilo que acabou por ser interpretado como um disparate de meia dúzia de feministas e que acabou por elevar o sexo ao estatuto de arma. Num país onde a violência sobre as mulheres é socialmente aceite eu pergunto-me quantas terão poder para gerir a sua sexualidade e negar aos seus parceiros aquilo, que para eles é considerado um direito legítimo, em nome da estabilidade de um governo que nada faz para as proteger. Para quem leva uma tareia por não ter a comida na mesa à hora certa, a ideia de dizer "não" ao sexo exigido pelo parceiro, não deve parecer muito boa ideia. Por outro lado, mesmo que a maior parte das mulheres pudesse recorrer à sua sexualidade como se de uma arma se tratasse, isso não legitimaria também o mesmo recurso por parte dos homens? E depois assiste-se ao absurdo do senhor fulano de tal que resolveu processar o grupo de mulheres que lançou a campanha, porque como esteve sem sexo durante uma semana sentiu-se muito mal, subiu-lhe a tensão, apareceram-lhe terríveis dores de cabeça e coitado, não aguenta com dores nas costas, tudo, segundo ele, porque a sua Maria se recusou a cumprir as suas obrigações conjugais. E é absurdo um suposto grupo de feministas, lançar uma campanha deste género, recorrendo ao sexo como arma por uma semana, validando assim, as "obrigações" a que as mulheres estão sujeitas no seu dia a dia. Como se o sexo fosse uma cláusula contratual aceite por todos e apenas violada durante uma semana para desviar a atenção do ridículo dos políticos para pôr a ridículo as mulheres.
Felizmente, muitas mulheres também se revoltaram contra esta campanha e tentaram elevar a discussão a um nível mais sério, mais útil e mais eficaz, mas o estrago já estava feito.
10/05/09
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2 comentários:
Bem...esse país é uma caixinha de surpresas!!!Fico chocada com a quantidade de absurdos que fazem o dia a dia desse país!Mas enfim...bem ou mal...ainda bem que vivo em Portugal! ;-))
Maninha, é verdade que este país é uma caixinha de surpresas, mas olha que a falta de qualidade dos nossos políticos, infelizmente não fica atrás :). Ao menos aqui é mais divertido!
Beijinhos
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