Já tardava o meu encontro com as autoridades! É famosa a minha relação amistosa e estranha com os agentes policiais, mas aqui no Quénia, as pessoas fogem deles como o diabo da cruz. Aqui a polícia só serve para extorquir dinheiro aos cidadãos mais incautos que não tiveram a sorte de evitar o encontro. Todos temem a polícia pois sabem que vão inventar o que for preciso para extorquir um "donativo" e os deixarem seguir em paz.
Até ontem tinha conseguido evitá-los mas eis que o receado confronto surge quando menos se espera.
Local: Entrada principal do Yaya Center
Horário: 21h
Motivo: A aguardar alguns amigos para sairmos juntos
Descrição da situação (o mais possível fiel aos acontecimentos):
Enquanto esperava a Perguntadora resolveu acender um cigarro e eis que, para seu espanto, começa a ver um agente da autoridade a deslocar-se perigosamente na sua direcção. Ela olha em volta a ver se mais alguém podia ser alvo da atenção da criatura, mas não, está completamente sozinha.
- Boa noite! - cumprimenta o polícia respeitosamente.
- Boa noite, posso ajudá-lo em alguma coisa? - pergunta a Perguntadora com o sorriso mais angélico
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do mundo como se estivesse pronta para ajudar o polícia a prender alguém.
- É proibido fumar! Faz mal à saúde! - Diz ele de rajada como se as duas frases fizessem muito sentido juntas.
- Sim, eu sei que tenho de largar o vício e olhe que até fumo muito pouco, mas olhe... eu estou na rua. Não estou a incomodar ninguém, - responde ela respeitosamente numa tentativa de criar empatia com o polícia.
- Mas a senhora não sabe que no Quénia é proibido fumar na rua??? Dentro do shopping nas lojas que o permitem pode fumar, agora na rua é que não! Vou ter de a multar.
(Aiiiiiii, olha-me este disparate... agora é que estou feita) Pensou a Perguntadora.
- E sabe que a multa é muito alta?... e eu não posso fazer de conta que não a vi a violar a lei, - afirma o polícia cheio de autoridade.
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- Claro, o senhor tem de fazer o seu trabalho!... Mas se reparar bem eu não estou na rua, estou debaixo da cobertura da entrada do centro comercial e portanto estou tecnicamente em terreno neutro. Não estou dentro nem fora! - responde a Perguntadora impulsivamente, com a maior lata do mundo e um sorrido encantador. (E sem nunca apagar o cigarro note-se!)
O polícia olha para um lado e para o outro. Vê-se que está confuso. Entretanto, o cigarro chega ao fim e a Perguntadora ataca sem dó nem piedade novamente.
- Deixe lá senhor polícia, olhe... apesar de eu não ter violado nenhuma lei foi um prazer falar consigo. Acabou por me fazer companhia enquanto espero pelos meus amigos e a sua presença fez-me sentir muito mais segura. Nada acontece por acaso! E olhe, o meu cigarro acabou... não há cinzeiros?!... vai-me multar se eu o apagar no chão? - dispara a Perguntadora.
- Não!?... - responde hesitante o polícia muito baixinho.
- Bem, chegaram os meus amigos. Foi um prazer falar consigo! Obrigada pela companhia e pela informação. Agora já sei que é proibido fumar na rua. Tenha uma noite! - diz a Perguntadora estendendo a mão para cumprimentar o policia e afastando-se em seguida na direcção dos amigos que finalmente chegavam.
Moral da história: Seja em Portugal ou no Quénia o que é preciso é ter lata, ser muito simpática e pensar rapidamente. Na maioria dos casos funciona!