Para quem ainda não sabe, o Quénia é tecnicamente uma democracia, com um sistema híbrido meio parlamentar e meio presidencial desde os conflitos pós-eleitorais, no ano passado. Só este facto já é suficiente para tornar esquizofrénico o exercício da política neste país (hoje é preciso agradar ao PM, amanhã ao Presidente). Mas tudo piora se tivermos em consideração que apesar da roupagem democrática, o Quénia é na verdade governado por uma verdadeira Oligarquia. São meia dúzia de famílias poderosas, dos Moi (do antigo ditador) aos Kibaki (do actual Presidente), que na verdade governam o país sem concorrência, roubam o país descarada e impunemente e ditam as regras do jogo. No seio destas famílias ilustres (chegadas ao poder mais por chico-espertismo, do que por mérito ou herança) estão distribuídos os altos cargos públicos (e os médios e alguns baixos também) e a gestão de todas as empresas públicas e da maior parte das empresas privadas.
Ora estes sistemas são propícios a provocar nas suas elites comportamentos bastante anti-sociais e originam frequentemente sintomas de demência (excentricidades, claro!), na minha opinião porque estes infelizes vivem tão fora da realidade social e tão alheios a qualquer tipo de punição ou controlo, que perdem a noção das coisas e caem no ridículo de forma irreversível.
Os exemplos são muitos e preocupantes. A esposa do Presidente, por exemplo, foi recentemente notícia por esbofetear em público um Membro do Parlamento porque ele andava a dizer mal do marido, pois claro. Claro que ela deu a primeira estalada e depois os guarda-costas continuaram a dar no canastro ao senhor, não fosse ele responder à agressão e dar nas trombas da Primeira Dama. Mas há mais, um juíz do Supremo Tribunal foi parado na rua por um polícia (que coitado não conhece todos os membros das famílias reais) e ficou tão incomodado que tirou a arma a um dos guarda-costas e disparou sobre o polícia. E só para terminar com um exemplo que eu já presenciei, a esposa do Governador de Nairobi anda pela cidade como se fosse a rainha do Sabá, rodeada de seguranças armados, que não hesitam em sair do carro e apontar armas aos outros carros no meio do trânsito para abrir caminho para a senhora.
É lamentável um país com tanto potencial e tão maravilhoso ter uma élite tão necessitada de ajuda psiquiátrica. Eu sinto-me incomodada com o estado de saúde desta gente e além do mais, a prepotência é uma coisa muito feia.
30/07/09
26/07/09
INSÓLITOS DO DIA-A-DIA
Faço aqui uma pequena interrupção nas crónicas de viagem para partilhar dois momentos insólitos da semana.
O primeiro aconteceu na sala de massagem. A meio da minha massagem sueca, estava eu muito zen, quase a dormir, quando de repente ouvi um som estranho que me despertou. Fiz um esforço para me ligar novamente à terra e dei conta que a massagista tinha adormecido agarrada ao meu pé esquerdo.... e ressonava, de pé! Não contive uma gargalhada e a pobre lá voltou à vida, muito envergonhada. Tem uma criança pequena que não a deixa dormir de noite e o ambiente da sala de massagem, com pouca luz, velas e musica calminha dá-lhe sono.
O segundo aconteceu 2 vezes na minha cozinha. Comecei a achar estranho ficar com dores de estômago a seguir às refeições, até que percebi que andava a grelhar hamburgueres de frango com a películas de plástico. Eu bem que me parecia que os hamburgueres ficavam muito brilhantes depois de cozinhados, mas só à terceira, quando vi uma pequena película a descolar e resolvi puxar por ela é que percebi que aquilo era plástico. É no que dá congelar a comida, uma pessoa nem percebe o que está a comer!
O primeiro aconteceu na sala de massagem. A meio da minha massagem sueca, estava eu muito zen, quase a dormir, quando de repente ouvi um som estranho que me despertou. Fiz um esforço para me ligar novamente à terra e dei conta que a massagista tinha adormecido agarrada ao meu pé esquerdo.... e ressonava, de pé! Não contive uma gargalhada e a pobre lá voltou à vida, muito envergonhada. Tem uma criança pequena que não a deixa dormir de noite e o ambiente da sala de massagem, com pouca luz, velas e musica calminha dá-lhe sono.
O segundo aconteceu 2 vezes na minha cozinha. Comecei a achar estranho ficar com dores de estômago a seguir às refeições, até que percebi que andava a grelhar hamburgueres de frango com a películas de plástico. Eu bem que me parecia que os hamburgueres ficavam muito brilhantes depois de cozinhados, mas só à terceira, quando vi uma pequena película a descolar e resolvi puxar por ela é que percebi que aquilo era plástico. É no que dá congelar a comida, uma pessoa nem percebe o que está a comer!
21/07/09
VOLTA AO QUÉNIA EM 3 SEMANAS IV
MURINGA FARM, SUBUKIA
(RIFT VALLEY)
Depois de todos os imprevistos que se nos depararam na costa resolvemos regressar a Nairobi o mais rapidamente possível para reorganizar o resto da viagem. Optamos por viajar de noite para poupar tempo e recorremos à companhia de autocarros que nos foi recomendada como a mais confortável e eficiente. Partimos de Malindi sob o lusco-fusco das 7h da tarde e chegamos a Nairobi ao raiar do dia às 5 e tal da manhã. Pelo meio, uma viagem memorável, num autocarro que desafia todos os princípios ergonómicos e que ganha aos pontos à Ryanair no que respeita à falta de espaço entre os bancos. Viajamos basicamente ensanduichadas entre o banco de trás e o da frente, tipo dominó: se o banco da frente se reclina, temos de fazer o mesmo e por aí em diante até toda a fila estar reclinada. Tivemos direito a uma paragem para as autoridades inspeccionarem o autocarro em que fomos todos obrigados a sair para um parque, a meio da noite e ,em fila, dirigirmo-nos aos senhores guardas que muito ensonados e encostados à parede espreitavam as nossas carteiras e quando se sentiam menos cansados lá conseguiam revistar-nos. Depois mandavam-nos para o meio do parque em filas sem nos explicarem nada até que nos deixaram de novo seguir viagem. A Zimbie para variar dormiu o tempo todo e eu pobre de mim, de cada vez que acordava, quase que rezava para voltar a adormecer depressa de maneira a não me aperceber da velocidade alucinante do autocarro pelo meio de uma estrada sem luz e em muitos lugares sem alcatrão.
Mas adiante… falemos de Subukia. Estávamos nós à procura de um lodge simpático e económico no Lago Nakuru, quando um belo dia entramos num talho e vimos no balcão folhetos de um lugar muito interessante por preços ainda mais interessantes, perto do lago. É uma daquelas coisas inesperadas que fazem parte do meu dia-a-dia, uma pessoa entra no talho (que também é charcutaria e peixaria de congelados) para procurar ingredientes para cozinhar amêijoas a Bolhão Pato e Bacalhau com Natas (que não encontramos) e lá está… a Muringa Farm, a olhar para nós.
Foi uma espécie de recompensa dos deuses pelos trabalhos passados em Malindi. Telefonamos para o número do folheto, reservamos a viagem e ainda tivemos direito a boleia de ida e de volta, porque o Eric e a Astrid estavam em Nairobi. São os donos da quinta, duas pessoas maravilhosas que tivemos o privilégio de conhecer. Subukia é a concretização do sonho deles depois de anos em outros lugares de África, com ultima paragem no Gabão onde ela, veterinária, se ocupava de gorilas e ele de uma pequena pousada turística. Em Subukia, uma pequena localidade perto da cidade de Nakuru, em pleno Rift Valley, rodeada por um relevo de cortar a respiração e vales verde e férteis, encontraram a Muringa Farm, onde além da criação de vários animais e da agricultura, nomeadamente de algum café e produtos hortícolas resolveram construir um pequeno lodge com bandas (pequenas casas redondas tradicionais, cada uma com o seu painelzinho solar e tudo o que precisamos no interior para um belo descanso), uma sala de refeições e lazer na margem de um lago, onde a paisagem parece irreal e a gente quase que se tem de beliscar para ter a certeza de não estarmos a sonhar, o Charles, um chef que nos deleitou com as mais gourmet e deliciosas iguarias (apesar de o próprio Eric ter feito uma mousse de chocolate do outro mundo) e uma série de actividades à escolha, desde safaris ao lago Nakuru até passeios a cavalo, caminhadas de montanha e parapente.
Passamos lá uns belos dias, rodeadas de gente amável e interessante (não só os donos mas todo o staff da quinta) no meio da natureza e da tranquilidade. Gostei particularmente de ter de atravessar o pequeno trilho pela floresta (cheia de macacos ao fim do dia) para chegar à “sala de refeições” , sobretudo à noite guiadas pelas nossas lanternas a óleo e a evitar sermos atingidas por galhos e arbustos mais afoitos. É preciso registar que nem sempre fomos bem sucedidas. Uma das árvores dá uma curva interessante mesmo no meio do trilho e fica á altura das nossas testas. A primeira vítima foi a Zimbie, mas eu também não escapei e quando a árvore me atingiu, bateu-me com tanta força que eu caí literalmente de joelhos e fiquei a ver estrelas e sem me mexer uma data de tempo. Pequenos inconvenientes das florestas, nada de mais! Os passeios pela quinta e sobretudo à volta do lago também são fantásticos. O lago está rodeado de pássaros, flores, árvores… é um mundo.
O incidente mais insólito aconteceu quando um belo dia eu resolvo ir passear a cavalo depois do almoço enquanto a Zimbie resolve ficar recostada a fazer a digestão e a ler em frente ao lago. Note-se que já andei muitas vezes a cavalo, já fiz muitos passeios de horas e dias inteiros a cavalo, note-se ainda que havia um guia à minha frente e um tratador de cavalos no chão ao meu lado a segurar as rédeas enquanto eu desapertava o impermeável atado à cintura porque começava a chover. Note-se muito bem que o meu cavalo estava totalmente imobilizado e seguro pelo tratador, quando de repente, sem saber porquê o bicho resolve desaparecer-me de debaixo das pernas e correr para só voltar a ser visto muito mais tarde. Eu ainda fiz um belíssimo movimento de rodeo e braço no ar a tentar equilibrar-me, mas sem cavalo, a força da gravidade não perdoou e eu caí estatelada no chão. Não foi bonito! Ele era palha e ervas no cabelo, hematomas nas pernas e nos braços, dores na anca e no tornozelo, uma desgraça… e eu tremia como varas verdes. Mas quando a Zimbie me viu chegar neste estado e pedir gelo ao Charles para pôr na anca… não aguentamos de tanto rir. E descobri que é um bom remédio porque tirando uma nódoa negra feia numa perna não ficaram mais mazelas.
A partir da Muringa Farm fomos ao maravilhoso Parque Nacional do Lago Nakuru, mas essa história fica para mais tarde.
(RIFT VALLEY)
Depois de todos os imprevistos que se nos depararam na costa resolvemos regressar a Nairobi o mais rapidamente possível para reorganizar o resto da viagem. Optamos por viajar de noite para poupar tempo e recorremos à companhia de autocarros que nos foi recomendada como a mais confortável e eficiente. Partimos de Malindi sob o lusco-fusco das 7h da tarde e chegamos a Nairobi ao raiar do dia às 5 e tal da manhã. Pelo meio, uma viagem memorável, num autocarro que desafia todos os princípios ergonómicos e que ganha aos pontos à Ryanair no que respeita à falta de espaço entre os bancos. Viajamos basicamente ensanduichadas entre o banco de trás e o da frente, tipo dominó: se o banco da frente se reclina, temos de fazer o mesmo e por aí em diante até toda a fila estar reclinada. Tivemos direito a uma paragem para as autoridades inspeccionarem o autocarro em que fomos todos obrigados a sair para um parque, a meio da noite e ,em fila, dirigirmo-nos aos senhores guardas que muito ensonados e encostados à parede espreitavam as nossas carteiras e quando se sentiam menos cansados lá conseguiam revistar-nos. Depois mandavam-nos para o meio do parque em filas sem nos explicarem nada até que nos deixaram de novo seguir viagem. A Zimbie para variar dormiu o tempo todo e eu pobre de mim, de cada vez que acordava, quase que rezava para voltar a adormecer depressa de maneira a não me aperceber da velocidade alucinante do autocarro pelo meio de uma estrada sem luz e em muitos lugares sem alcatrão.
Mas adiante… falemos de Subukia. Estávamos nós à procura de um lodge simpático e económico no Lago Nakuru, quando um belo dia entramos num talho e vimos no balcão folhetos de um lugar muito interessante por preços ainda mais interessantes, perto do lago. É uma daquelas coisas inesperadas que fazem parte do meu dia-a-dia, uma pessoa entra no talho (que também é charcutaria e peixaria de congelados) para procurar ingredientes para cozinhar amêijoas a Bolhão Pato e Bacalhau com Natas (que não encontramos) e lá está… a Muringa Farm, a olhar para nós.
Foi uma espécie de recompensa dos deuses pelos trabalhos passados em Malindi. Telefonamos para o número do folheto, reservamos a viagem e ainda tivemos direito a boleia de ida e de volta, porque o Eric e a Astrid estavam em Nairobi. São os donos da quinta, duas pessoas maravilhosas que tivemos o privilégio de conhecer. Subukia é a concretização do sonho deles depois de anos em outros lugares de África, com ultima paragem no Gabão onde ela, veterinária, se ocupava de gorilas e ele de uma pequena pousada turística. Em Subukia, uma pequena localidade perto da cidade de Nakuru, em pleno Rift Valley, rodeada por um relevo de cortar a respiração e vales verde e férteis, encontraram a Muringa Farm, onde além da criação de vários animais e da agricultura, nomeadamente de algum café e produtos hortícolas resolveram construir um pequeno lodge com bandas (pequenas casas redondas tradicionais, cada uma com o seu painelzinho solar e tudo o que precisamos no interior para um belo descanso), uma sala de refeições e lazer na margem de um lago, onde a paisagem parece irreal e a gente quase que se tem de beliscar para ter a certeza de não estarmos a sonhar, o Charles, um chef que nos deleitou com as mais gourmet e deliciosas iguarias (apesar de o próprio Eric ter feito uma mousse de chocolate do outro mundo) e uma série de actividades à escolha, desde safaris ao lago Nakuru até passeios a cavalo, caminhadas de montanha e parapente.
Passamos lá uns belos dias, rodeadas de gente amável e interessante (não só os donos mas todo o staff da quinta) no meio da natureza e da tranquilidade. Gostei particularmente de ter de atravessar o pequeno trilho pela floresta (cheia de macacos ao fim do dia) para chegar à “sala de refeições” , sobretudo à noite guiadas pelas nossas lanternas a óleo e a evitar sermos atingidas por galhos e arbustos mais afoitos. É preciso registar que nem sempre fomos bem sucedidas. Uma das árvores dá uma curva interessante mesmo no meio do trilho e fica á altura das nossas testas. A primeira vítima foi a Zimbie, mas eu também não escapei e quando a árvore me atingiu, bateu-me com tanta força que eu caí literalmente de joelhos e fiquei a ver estrelas e sem me mexer uma data de tempo. Pequenos inconvenientes das florestas, nada de mais! Os passeios pela quinta e sobretudo à volta do lago também são fantásticos. O lago está rodeado de pássaros, flores, árvores… é um mundo.
O incidente mais insólito aconteceu quando um belo dia eu resolvo ir passear a cavalo depois do almoço enquanto a Zimbie resolve ficar recostada a fazer a digestão e a ler em frente ao lago. Note-se que já andei muitas vezes a cavalo, já fiz muitos passeios de horas e dias inteiros a cavalo, note-se ainda que havia um guia à minha frente e um tratador de cavalos no chão ao meu lado a segurar as rédeas enquanto eu desapertava o impermeável atado à cintura porque começava a chover. Note-se muito bem que o meu cavalo estava totalmente imobilizado e seguro pelo tratador, quando de repente, sem saber porquê o bicho resolve desaparecer-me de debaixo das pernas e correr para só voltar a ser visto muito mais tarde. Eu ainda fiz um belíssimo movimento de rodeo e braço no ar a tentar equilibrar-me, mas sem cavalo, a força da gravidade não perdoou e eu caí estatelada no chão. Não foi bonito! Ele era palha e ervas no cabelo, hematomas nas pernas e nos braços, dores na anca e no tornozelo, uma desgraça… e eu tremia como varas verdes. Mas quando a Zimbie me viu chegar neste estado e pedir gelo ao Charles para pôr na anca… não aguentamos de tanto rir. E descobri que é um bom remédio porque tirando uma nódoa negra feia numa perna não ficaram mais mazelas.
A partir da Muringa Farm fomos ao maravilhoso Parque Nacional do Lago Nakuru, mas essa história fica para mais tarde.
19/07/09
VOLTA AO QUÉNIA EM 3 SEMANAS III
MALINDI
É preciso dizer que a nossa viagem pela costa sofreu várias alterações desde o início. Primeiro era suposto ser a última paragem e acabou por ser a primeira e em segundo lugar tínhamos decido ir para Watamu, a seguir a Mombasa, com a certeza de aí encontrar uma bela praia tropical, muito sol e sossego, longe dos lugares mais dedicados ao turismo de massas como Diani ou Malindi. Acontece que ainda em Mombasa tivemos a oportunidade, um dia, de um passeio até Malindi com alguns amigos e aproveitamos para passar por Watamu, para ver se o hotel que tínhamos escolhido era simpático. Só aí percebemos que estávamos na época mais baixa da época baixa na costa e começamos a ver a nossa vida a andar para trás. Watamu, que é uma povoação pequena, estava deserta e a maior parte dos hotéis fechados, incluindo o nosso. A culpa foi minha. Parti do princípio que sendo época alta para os safaris, ninguém no seu perfeito juízo ia deixar de visitar a maravilhosa costa do Índico. Não é verdade. Quem quer ver animais selvagens não está interessado na praia e vice-versa. Eu, cá para mim, cada vez me convenço mais que há gente muito estranha.
Com os nossos planos empenados e a costa deserta, Malindi acabou por nos parecer uma possibilidade agradável. Sempre tinha um pouco mais de vida, o reboliço que me aborreceria na época alta não existia e um bom negócio para alugar uma casa quase em frente à praia a um familiar de um dos nossos amigos, acabou por nos convencer.
No dia da viagem, acordamos cedinho para apanhar o autocarro de Mombasa para Malindi, a cerca de uma hora de viagem, e a Zimbie sentia-se muito mal disposta. Comecei a ver a minha vida a andar cada vez mais para trás mas lá fomos, depois de um “vai de autocarro”, “vai de matatu”, muita conversa com os angariadores de clientes e a Zimbie encostadita à mala a dizer que estava mal disposta e que precisava de espaço, conforto e um lugar à janela. Acabamos por viajar no Malindi Shutle Service, o Matatu dos Matatus, na fila da frente, com todas as condições para a doentinha.
O pior foi eu própria começar a sentir-me mal e a Zimbie continuar a piorar. A coisa acabou no consultório do Sr. Doutor, com as duas piores que o chapéu de um pobre e a Zimbie quase em estado de decomposição. Os nossos pobres estômagos e intestinos não gostaram da comidinha Swahili, apesar de nós termos gostado e querermos experimentar de tudo.
Entretanto, e para nosso espanto (eu fiquei para a minha vida com tanto azar), levamos com uma tempestade tropical em cima. Só nos restava a enorme capacidade de nos rirmos de nós próprias, num paraíso tropical, enfiadas na cama, com intoxicação alimentar e chuva e trovoada de bradar aos céus.
De Malindi ficamos com a ideia de ser um lugar aprazível fora da época mais turística (Dezembro), apesar de estar cheio de expatriados italianos, de os habitantes locais falarem em italiano a todos os mzungo, de haver um assédio irritante aos turistas e de os monumentos serem no mínimo hilariantes. Eu sei que não é bonito gozar com os monumentos dos outros, mas convenhamos, a coisa mais famosa é o Pilar do Vasco da Gama, que não passa de uma espécie de menir pousado em cima de um rochedo e que ainda nos obrigam a pagar para o ver… como se tivesse alguma coisa que ver… enfim! Depois, há a magnífica capela, igreja… já nem sei bem, Portuguesa, tão única que ficava ao lado de nossa casa e não demos por ela. Na verdade, é uma cabana com telhado de palha e dizem que os marinheiros portugueses rezavam lá. Eu cá para mim era a tasca dos tugas e a história foi deturpada.
Perante a falta de monumentalidade dos afamados lugares históricos, resta a Malindi e à costa em geral a monumentalidade da paisagem. A mesma paisagem encantadora da costa norte de Moçambique, com florestas de mangue e marés que fazem desaparecer o mar, palmeiras e vegetação luxuriante e areais brancos e macios onde apetece tudo menos estar doente em casa, comer esparguete de couve branca com caril (nem vou explicar!!!) e levar com chuva a torto e a direito.
Com este cenário, não nos restou mais nada senão desistir e regressar mais cedo a Nairobi para reorganizar o resto das férias. Não perdemos tempo e no dia em que decidimos partir, viajamos no autocarro da noite e tivemos uma experiência do outro mundo.
É preciso dizer que a nossa viagem pela costa sofreu várias alterações desde o início. Primeiro era suposto ser a última paragem e acabou por ser a primeira e em segundo lugar tínhamos decido ir para Watamu, a seguir a Mombasa, com a certeza de aí encontrar uma bela praia tropical, muito sol e sossego, longe dos lugares mais dedicados ao turismo de massas como Diani ou Malindi. Acontece que ainda em Mombasa tivemos a oportunidade, um dia, de um passeio até Malindi com alguns amigos e aproveitamos para passar por Watamu, para ver se o hotel que tínhamos escolhido era simpático. Só aí percebemos que estávamos na época mais baixa da época baixa na costa e começamos a ver a nossa vida a andar para trás. Watamu, que é uma povoação pequena, estava deserta e a maior parte dos hotéis fechados, incluindo o nosso. A culpa foi minha. Parti do princípio que sendo época alta para os safaris, ninguém no seu perfeito juízo ia deixar de visitar a maravilhosa costa do Índico. Não é verdade. Quem quer ver animais selvagens não está interessado na praia e vice-versa. Eu, cá para mim, cada vez me convenço mais que há gente muito estranha.
Com os nossos planos empenados e a costa deserta, Malindi acabou por nos parecer uma possibilidade agradável. Sempre tinha um pouco mais de vida, o reboliço que me aborreceria na época alta não existia e um bom negócio para alugar uma casa quase em frente à praia a um familiar de um dos nossos amigos, acabou por nos convencer.
No dia da viagem, acordamos cedinho para apanhar o autocarro de Mombasa para Malindi, a cerca de uma hora de viagem, e a Zimbie sentia-se muito mal disposta. Comecei a ver a minha vida a andar cada vez mais para trás mas lá fomos, depois de um “vai de autocarro”, “vai de matatu”, muita conversa com os angariadores de clientes e a Zimbie encostadita à mala a dizer que estava mal disposta e que precisava de espaço, conforto e um lugar à janela. Acabamos por viajar no Malindi Shutle Service, o Matatu dos Matatus, na fila da frente, com todas as condições para a doentinha.
O pior foi eu própria começar a sentir-me mal e a Zimbie continuar a piorar. A coisa acabou no consultório do Sr. Doutor, com as duas piores que o chapéu de um pobre e a Zimbie quase em estado de decomposição. Os nossos pobres estômagos e intestinos não gostaram da comidinha Swahili, apesar de nós termos gostado e querermos experimentar de tudo.
Entretanto, e para nosso espanto (eu fiquei para a minha vida com tanto azar), levamos com uma tempestade tropical em cima. Só nos restava a enorme capacidade de nos rirmos de nós próprias, num paraíso tropical, enfiadas na cama, com intoxicação alimentar e chuva e trovoada de bradar aos céus.
De Malindi ficamos com a ideia de ser um lugar aprazível fora da época mais turística (Dezembro), apesar de estar cheio de expatriados italianos, de os habitantes locais falarem em italiano a todos os mzungo, de haver um assédio irritante aos turistas e de os monumentos serem no mínimo hilariantes. Eu sei que não é bonito gozar com os monumentos dos outros, mas convenhamos, a coisa mais famosa é o Pilar do Vasco da Gama, que não passa de uma espécie de menir pousado em cima de um rochedo e que ainda nos obrigam a pagar para o ver… como se tivesse alguma coisa que ver… enfim! Depois, há a magnífica capela, igreja… já nem sei bem, Portuguesa, tão única que ficava ao lado de nossa casa e não demos por ela. Na verdade, é uma cabana com telhado de palha e dizem que os marinheiros portugueses rezavam lá. Eu cá para mim era a tasca dos tugas e a história foi deturpada.
Perante a falta de monumentalidade dos afamados lugares históricos, resta a Malindi e à costa em geral a monumentalidade da paisagem. A mesma paisagem encantadora da costa norte de Moçambique, com florestas de mangue e marés que fazem desaparecer o mar, palmeiras e vegetação luxuriante e areais brancos e macios onde apetece tudo menos estar doente em casa, comer esparguete de couve branca com caril (nem vou explicar!!!) e levar com chuva a torto e a direito.
Com este cenário, não nos restou mais nada senão desistir e regressar mais cedo a Nairobi para reorganizar o resto das férias. Não perdemos tempo e no dia em que decidimos partir, viajamos no autocarro da noite e tivemos uma experiência do outro mundo.
15/07/09
VOLTA AO QUÉNIA EM 3 SEMANAS II
MOMBASA
Mombasa é uma cidade cheia de história, de encantos, pitoresca e é geograficamente uma ilha, na costa sul do Quénia, banhada pelo Índico. Dela dizem que não tem meio termo, que quem a conhece ou a detesta ou a adora.
Eu, antes demais, devo dizer que para minha grande frustração detestei a cidade. É difícil de explicar este sentimento, tem a ver com algo que se sente no ar, com o ambiente de um lugar, com algo pouco objectivo. Eu detestei praticamente tudo: a falta de verde, o lixo, a degradação dos edifícios, os maus cheiros, a exploração dos turistas, o assédio imbecil dos habitantes locais que torna qualquer passeio exasperante, a chuva que não nos largou, a feiura da cidade.
Dito isto, e depois de partilhar as emoções negativas que a cidade me suscitou vou tentar ser objectiva. É impossível falar do Quénia sem falar em Mombasa, a segunda maior cidade do país, na costa do Índico, durante séculos um entreposto fundamental para o comércio internacional, com uma longa e profunda influência árabe que se reflecte na arquitectura e na cultura Swahili predominante. A cidade velha, seria belíssima se não estivesse a cair de podre, com as suas ruas estreitinhas a fervilhar de comércio, com as suas portas rendilhadas maravilhosas, as varandas esculpidas e as mesquitas das mil e uma noites. Nota-se algum esforço de recuperação e reabilitação urbana mas insignificante, na minha opinião, para aquilo que Mombasa merecia.
Chegamos à cidade depois de umas 10h de autocarro, que partiu de Nairobi e atravessou o sul do país até à costa. Para dizer a verdade, a coisa correu bem melhor do que pensei. O autocarro, da Akamba, era um luxo para os padrões locais, confortável, limpo, com uma paragem numa boa zona de serviço para a malta esticar as pernas, comer qualquer coisa, fumar um cigarro e fazer xi xi. A única coisa insólita de que me lembro são as paragens na berma da estrada para os xi xis intermédios. O autocarro pára literalmente na berma do mato e é ver a malta a sair para aliviar a bexiga. Em segundos forma-se uma fila de homens de costas para o autocarro a regar o capim e o mulherio desaparece no meio da vegetação mais densa. Fez-me uma certa confusão e não achei prático. Reclamações, só mesmo daquele troço da estrada sem asfalto que desafiava a suspensão do autocarro e a gravidade do planeta, apesar de a Zimbie conseguir dormir no meio da nuvem de pó que tentava engolir-nos e dos solavancos que faziam lembrar poços de ar em viagens de avião.
O nosso hotel, escolhido por recomendação da Lonely Planet e sem reserva, acolheu-nos bem na sua simplicidade e diria, mediocridade. Não tem história nem alma, é um sítio chato: nem bom nem mau, nem bonito nem feio, nem caro nem barato… enfim, adiante.
A noite chegou e com ela a fominha e a necessidade de encontrar um sítio para comer e aí acontece o grande incidente insólito da viagem. Convenhamos: qual a probabilidade de atravessar o país, chegar a uma cidade desconhecida, virar uma esquina, encontrar um restaurante simples mas com boa pinta e encontrar lá, a jantar o Hashim, uma pessoa maravilhosa que tínhamos conhecido em Nairobi no dia da nossa chegada? Nem queríamos acreditar nos nossos olhos e a partir daí tivemos companhia da melhor qualidade, viatura com chaufeur, convites para ir aqui e ali, visita guiada a bons restaurantes e algumas maravilhas locais e muitas, mas muitas gargalhadas, além da oportunidade de conhecer mais algumas pessoas muito especiais.
O mundo é mesmo muito pequeno! E não pára de nos surpreender.
Ao contrário do que pensávamos o tempo na costa estava muito mau, chovia que se fartava e praia… nem vê-la.
Um dia, ficamos por nossa conta na cidade e fomos visitar os monumentos e a cidade velha… foi difícil. Valeu-nos o tuk tuk, que descobri ser o melhor meio de transporte do mundo, uma espécie de motoreta com uma parte de trás coberta e lugar para 3 passageiros. É rápido, fácil de encontrar e prático para deslocações curtas (é maravilhoso em dias de chuva).
A nossa primeira paragem foi no Forte Jesus, construído pelos tugas. É “O” monumento da cidade, é grande, percebe-se que foi uma fortaleza… mas era um sítio chato para viver (ou os
nossos compatriotas não teriam enchido as paredes de grafitis). Coitados, deviam sentir-se muito aborrecidos com aquele calor húmido sufocante, longe de casa, sem internet nem TV Cabo, com mulheres camufladas por grandes camadas de panos e rodeados de Infiéis. Era uma vidinha difícil. Agora, para ser sincera, eu percebo que o forte seja uma coisa do outro mundo para os padrões locais, americanos, autralianos e tal… agora para nós baahhh! Não é nada de especial! Quem tropeça no castelo do Queijo por tudo e por nada e conhece Sagres e outros que tal não fica facilmente excitado com a coisa…. Com excepção para o museu, esse sim, digno de nota, como se pode ver pelas fotos, mas sem qualquer mérito por parte dos Portugueses LOL.
O pior mesmo foi depois o passeio pela cidade velha, com cromos constantemente a quererem ser nossos guias, com um caso grave de assédio turístico e uma vontade constante de arrancar os olhos a pessoas que se aproximavam de nós. Se não tivermos cuidado Mombasa pode induzir comportamentos profundamente antissociais nos visitantes.
A seguir abalamos para Malindi, para fazer praia e descansar ao sol… mas esse capítulo fica para depois.
Mombasa é uma cidade cheia de história, de encantos, pitoresca e é geograficamente uma ilha, na costa sul do Quénia, banhada pelo Índico. Dela dizem que não tem meio termo, que quem a conhece ou a detesta ou a adora.
Eu, antes demais, devo dizer que para minha grande frustração detestei a cidade. É difícil de explicar este sentimento, tem a ver com algo que se sente no ar, com o ambiente de um lugar, com algo pouco objectivo. Eu detestei praticamente tudo: a falta de verde, o lixo, a degradação dos edifícios, os maus cheiros, a exploração dos turistas, o assédio imbecil dos habitantes locais que torna qualquer passeio exasperante, a chuva que não nos largou, a feiura da cidade.
Dito isto, e depois de partilhar as emoções negativas que a cidade me suscitou vou tentar ser objectiva. É impossível falar do Quénia sem falar em Mombasa, a segunda maior cidade do país, na costa do Índico, durante séculos um entreposto fundamental para o comércio internacional, com uma longa e profunda influência árabe que se reflecte na arquitectura e na cultura Swahili predominante. A cidade velha, seria belíssima se não estivesse a cair de podre, com as suas ruas estreitinhas a fervilhar de comércio, com as suas portas rendilhadas maravilhosas, as varandas esculpidas e as mesquitas das mil e uma noites. Nota-se algum esforço de recuperação e reabilitação urbana mas insignificante, na minha opinião, para aquilo que Mombasa merecia.
Chegamos à cidade depois de umas 10h de autocarro, que partiu de Nairobi e atravessou o sul do país até à costa. Para dizer a verdade, a coisa correu bem melhor do que pensei. O autocarro, da Akamba, era um luxo para os padrões locais, confortável, limpo, com uma paragem numa boa zona de serviço para a malta esticar as pernas, comer qualquer coisa, fumar um cigarro e fazer xi xi. A única coisa insólita de que me lembro são as paragens na berma da estrada para os xi xis intermédios. O autocarro pára literalmente na berma do mato e é ver a malta a sair para aliviar a bexiga. Em segundos forma-se uma fila de homens de costas para o autocarro a regar o capim e o mulherio desaparece no meio da vegetação mais densa. Fez-me uma certa confusão e não achei prático. Reclamações, só mesmo daquele troço da estrada sem asfalto que desafiava a suspensão do autocarro e a gravidade do planeta, apesar de a Zimbie conseguir dormir no meio da nuvem de pó que tentava engolir-nos e dos solavancos que faziam lembrar poços de ar em viagens de avião.
O nosso hotel, escolhido por recomendação da Lonely Planet e sem reserva, acolheu-nos bem na sua simplicidade e diria, mediocridade. Não tem história nem alma, é um sítio chato: nem bom nem mau, nem bonito nem feio, nem caro nem barato… enfim, adiante.
A noite chegou e com ela a fominha e a necessidade de encontrar um sítio para comer e aí acontece o grande incidente insólito da viagem. Convenhamos: qual a probabilidade de atravessar o país, chegar a uma cidade desconhecida, virar uma esquina, encontrar um restaurante simples mas com boa pinta e encontrar lá, a jantar o Hashim, uma pessoa maravilhosa que tínhamos conhecido em Nairobi no dia da nossa chegada? Nem queríamos acreditar nos nossos olhos e a partir daí tivemos companhia da melhor qualidade, viatura com chaufeur, convites para ir aqui e ali, visita guiada a bons restaurantes e algumas maravilhas locais e muitas, mas muitas gargalhadas, além da oportunidade de conhecer mais algumas pessoas muito especiais.
O mundo é mesmo muito pequeno! E não pára de nos surpreender.
Ao contrário do que pensávamos o tempo na costa estava muito mau, chovia que se fartava e praia… nem vê-la.
Um dia, ficamos por nossa conta na cidade e fomos visitar os monumentos e a cidade velha… foi difícil. Valeu-nos o tuk tuk, que descobri ser o melhor meio de transporte do mundo, uma espécie de motoreta com uma parte de trás coberta e lugar para 3 passageiros. É rápido, fácil de encontrar e prático para deslocações curtas (é maravilhoso em dias de chuva).
A nossa primeira paragem foi no Forte Jesus, construído pelos tugas. É “O” monumento da cidade, é grande, percebe-se que foi uma fortaleza… mas era um sítio chato para viver (ou os
nossos compatriotas não teriam enchido as paredes de grafitis). Coitados, deviam sentir-se muito aborrecidos com aquele calor húmido sufocante, longe de casa, sem internet nem TV Cabo, com mulheres camufladas por grandes camadas de panos e rodeados de Infiéis. Era uma vidinha difícil. Agora, para ser sincera, eu percebo que o forte seja uma coisa do outro mundo para os padrões locais, americanos, autralianos e tal… agora para nós baahhh! Não é nada de especial! Quem tropeça no castelo do Queijo por tudo e por nada e conhece Sagres e outros que tal não fica facilmente excitado com a coisa…. Com excepção para o museu, esse sim, digno de nota, como se pode ver pelas fotos, mas sem qualquer mérito por parte dos Portugueses LOL.
O pior mesmo foi depois o passeio pela cidade velha, com cromos constantemente a quererem ser nossos guias, com um caso grave de assédio turístico e uma vontade constante de arrancar os olhos a pessoas que se aproximavam de nós. Se não tivermos cuidado Mombasa pode induzir comportamentos profundamente antissociais nos visitantes.
A seguir abalamos para Malindi, para fazer praia e descansar ao sol… mas esse capítulo fica para depois.
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