10/12/09
NAS ENTRANHAS DE KISUMU
Ontem tive um dia, no mínimo atípico. Andei a visitar latrinas nos bairros de lata. Exacto, é mesmo isso que estão a pensar, andei a visitar retretes nas entranhas de Kisumu. Uns amigos recentes que por cá fiz estão envolvidos num projecto de promoção e construção de "eco-sanitation", ou seja, latrinas ecológicas e fizeram questão de mostrar tudo. A experiência foi tão real que chegamos a ter de esperar que um utilizador saísse da latrina para irmos espreitar o seu funcionamento. Foi deveras interessante, eu sempre a dizer "Nzuri sana. Twende! Taphadali", ou seja, em desespero a tentar sair dali "Muito bem. Vamos! Obrigado" para deixar o rapaz sossegado a aliviar-se e a avó dele, uma senhora grande e forte e com uma voz poderosa a mandá-lo sair da latrina que estava lá uma mzungu para espreitar aquela maravilha tecnológica. Foi um momento embaraçoso, pelo menos para mim, ver o moço sair de lá de dentro atarantado ainda a apertar as calças e ter a avó a puxar-me a mão para me enfiar lá dentro a ver o funcionamento da coisa: a separação da urina das fezes, os depósitos para ambas (nas latrinas ecológicas elas são transformadas em adubo), o tubo para saída dos gases (que as fezes produzem quando armazenadas), a qualidade dos materiais de construção. A senhora parecia uma engenheira a mostrar-me uma central nuclear! A juntar ao propósito insólito da minha visita, não podiam faltar as dezenas de crianças que corriam por todo o lado atrás de mim a gritar mzungu, mzungu how are you?, como se já não atraísse suficientemente a atenção haver alguém a meter o nariz nas retretes alheias. E se pensarmos que isto tudo se passou num dos maiores bairros de lata da cidade, sem qualquer tipo de saneamento, com as ruas e vielas transformadas em lamaçais, as casas coladas umas às outras numa manta de retalhos de materiais de construção, com o comércio e a indústria a transbordar para fora das casas (vendas de fruta, de chapatis, de carne, de peixe, de batatas fritas e de roupa, carpintarias, mecânicos, costureiras, construtores, chapeiros e sei lá que mais, todos a trabalhar à porta de casa no meio da lama) e eu, a mzungu mais famosa do bairro, a visitar latrinas, rodeada de dezenas de putos excitadíssimos com a minha presença, percebem a dimensão do meu embaraço. Mas acabou por correr tudo bem e depois de um belo banho purificador em casa, as coisas relativizaram-se: a experiência foi interessante, aprendi muito sobre latrinas, compostagem e adubos naturais, tive oportunidade de praticar o meu Swahili e ainda tive uma proposta de casamento, de um sujeito tão bêbado, mas tão bêbado, que andava atrás das crianças, que andavam atrás de mim (e não chegava até mim por questões óbvias de falta de equilíbrio) a gritar que queria casar comigo e a divertir toda a gente do bairro.
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6 comentários:
lolol!!! Nem consigo comentar seja o que for deste teu post, mas é tããoo lindooooo :DD Tu metes-te em cada uma... Continua, que estás no bom caminho ;) beijinhos grandes.
Só tu, Gabi! LOL
Eu juro que, mesmo já tendo lido todas as tuas aventuras no blog, nos mails e contadas pessoalmente, comprarei o teu livro se resolveres publicar as tuas histórias em papel.
Continua o bom trabalho. :)
beijinhos
:) Valha-me ter algum sentido de humor... ok eu tenho bastante LOL, mas, carago!, será que estas coisas só me acontecem a mim? ou são os meus olhos que veem humor e curiosidades onde outros só veem lixo, desconforto, miséria e ignorância? Devo ser eu...
Lololol!!! Demais! :D
Continua a ver o que vês, minha querida, é isso que faz a vida valer a pena. ;)
Ok, os bêbados aos tropeções atrás de ti podes fingir que não vês. ;)
Agora mais a sério, a ideia da "eco-sanitation" é boa e estão de parabéns, sim senhor. :)
alguém de dizia que eu ora via flores na perversidade ora perversidade nas flores;) tu vês humor e esperança na... latrina ;) és a maior!
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