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ESPERO QUE GOSTEM E CONTO COM OS VOSSOS COMENTÁRIOS E OPINIÕES PARA TORNAR ESTE BLOGUE AINDA MELHOR.
18/01/10
14/01/10
MZALENDO, O PATRIOTA
Quantas vezes nos perguntamos sobre o que podemos fazer para tornar as nossas sociedades mais justas e os nossos governos mais transparentes enquanto cidadãos comuns? Apenas para, na maioria das vezes, nos acomodarmos à frustração de não podermos fazer nada, ao sentimento de inferioridade de quem acha que não tem poder nem voz. É assim em Portugal. É assim quando os níveis de abstenção eleitoral são elevados, é assim quando não exigimos os nossos direitos e manifestamos os nossos descontentamentos, é assim quando os movimentos sociais são pobres e é assim quando confundimos política com partidarismo e nos demitimos daquele que eu acho que é o nosso primeiro dever e direito enquanto cidadãos: participar activamente na sociedade, a nível local e global. Mas é assim em muitos lugares. Chamam-lhe crise democrática, alienação social... enfim, é um sintoma grave de um mundo em agonia.
Mas em muitos lugares do mundo a situação é ainda mais grave do que em Portugal, muito mais grave. Muitas democracias são artificias. outras tantas são jovens, outras ainda de democracia só têm o nome. Em muitos lugares falta consciência democrática, conhecimentos e instrumentos de participação social e de supervisão do Estado e falta sobretudo um certo nível de bem-estar social que permita às pessoas serem cidadãos de pleno direito. Não tenhamos ilusões. Enquanto a primeira preocupação do indivíduo for a sobrevivência até ao dia seguinte, seja por falta de comida, de água, de segurança, não podemos esperar que ele seja activo na defesa e no desenvolvimento dos seus concidadãos. E em muitos lugares este é o quotidiano da maior parte da população e a democracia apenas uma palavra estrangeira, imposta por estrangeiros para satisfação de alguns estrangeiros.
Apesar de tudo, de vez em quando, o solo mais árido pode produzir milagres, como as rosas efémeras do deserto de Atacama, da mesma forma que nas sociedades mais improváveis podem surgir fenómenos sociais extraordinários e inspiradores.
O Quénia não é um exemplo de estabilidade e maturidade democrática e enfrenta os mesmos problemas de muitos outros países no mundo onde a democracia não foi conquistada pelo povo mas imposta pela comunidade internacional e onde a maior parte da população se preocupa mais com a sobrevivência quotidiana do que com a participação social. Também não é um exemplo de transparência e responsabilidade governativa. Mas foi aqui que nasceu, contra todas as probabilidades, o MZALENDO: Eye on Kenyan Parliament e o MARS Group Kenya, dois sites que têm por objectivo supervisionar e responsabilizar o Estado. Curiosamente, mzalendo, significa "patriota" em Swahili e, de facto, haverá maior acto de patriotismo (seja o nosso conceito patriótico associado a fronteiras, línguas, religiões ou pertença comum à humanidade) do que monitorizar, denunciar, comentar e participar para cuidar da nossa sociedade?
Mas em muitos lugares do mundo a situação é ainda mais grave do que em Portugal, muito mais grave. Muitas democracias são artificias. outras tantas são jovens, outras ainda de democracia só têm o nome. Em muitos lugares falta consciência democrática, conhecimentos e instrumentos de participação social e de supervisão do Estado e falta sobretudo um certo nível de bem-estar social que permita às pessoas serem cidadãos de pleno direito. Não tenhamos ilusões. Enquanto a primeira preocupação do indivíduo for a sobrevivência até ao dia seguinte, seja por falta de comida, de água, de segurança, não podemos esperar que ele seja activo na defesa e no desenvolvimento dos seus concidadãos. E em muitos lugares este é o quotidiano da maior parte da população e a democracia apenas uma palavra estrangeira, imposta por estrangeiros para satisfação de alguns estrangeiros.
Apesar de tudo, de vez em quando, o solo mais árido pode produzir milagres, como as rosas efémeras do deserto de Atacama, da mesma forma que nas sociedades mais improváveis podem surgir fenómenos sociais extraordinários e inspiradores.
O Quénia não é um exemplo de estabilidade e maturidade democrática e enfrenta os mesmos problemas de muitos outros países no mundo onde a democracia não foi conquistada pelo povo mas imposta pela comunidade internacional e onde a maior parte da população se preocupa mais com a sobrevivência quotidiana do que com a participação social. Também não é um exemplo de transparência e responsabilidade governativa. Mas foi aqui que nasceu, contra todas as probabilidades, o MZALENDO: Eye on Kenyan Parliament e o MARS Group Kenya, dois sites que têm por objectivo supervisionar e responsabilizar o Estado. Curiosamente, mzalendo, significa "patriota" em Swahili e, de facto, haverá maior acto de patriotismo (seja o nosso conceito patriótico associado a fronteiras, línguas, religiões ou pertença comum à humanidade) do que monitorizar, denunciar, comentar e participar para cuidar da nossa sociedade?
12/01/10
06/01/10
AMIGOS DO LAGO VITÓRIA
O Lago Vitória, com mais de 68 000 km2 é o maior lago africano, o maior lago tropical do mundo e é partilhado por três países: o Uganda, a Tanzânia e o Quénia. É uma fonte de vida incomparável na região, fundamental mas não infinita. Mais de 30 milhões de pessoas dependem dele para viver e muitas culturas e tradições estão a ele associadas. Infelizmente, como acontece um pouco por todo o mundo, os problemas ambientais que enfrenta são muitos e o lago está a morrer lentamente. Mas há também cada vez mais organizações envolvidas na protecção do Lago Vitória, com uma dinâmica impressionante. No Quénia, tenho a oportunidade de acompanhar de perto uma delas, a OSIENALA, onde alguns amigos trabalham e tenho aprendido imenso sobre preservação, sustentabilidade e educação ambiental. É um mundo novo para mim mas é um mundo cheio de esperança.
O grande lago sofre de vários males. Os mais óbvios talvez sejam a pesca excessiva (sobretudo a pesca desregulamentada com recurso a redes demasiado apertadas que capturam peixes em crescimento) e a poluição de origem agro-química e falta de saneamento, tão visível na cidade de Kisumu onde a água é negra e densa. No entanto, há mais ameaças. O lago está infestado por jacintos de água que são alimentados basicamente pelos nitratos usados nos fertilizantes e muitas vezes quando olho para ele parece mais um enorme pasto verde do que um manto de água. O jacinto de água tal como a perca do Nilo são espécies exógenas, introduzidas no lago e que afectam seriamente todo o equilíbrio do ecossistema. Outra ameaça muito séria está relacionada com a destruição e/ou apropriação das zonas húmidas para o cultivo do arroz, uma vez que são estas terras que servem de filtro para o lago. E assiste-se também a um conflito recorrente entre seres humanos e a vida selvagem que culminam no abate de muitos hipopótamos e outras espécies. E a degradação do lago não é alheia às mudanças climáticas, com o nível da água a baixar devido à escassez de chuvas, a malária a aumentar (esta é uma das zonas com maior incidência de malária), intercalando com períodos de cheia que vitimam milhares de pessoas na região. O cenário é negro, a degradação visível a olho nú e o futuro preocupante.
O que eu não esperava, até porque a sociedade civil no Quénia parece-me pouco activa, era encontrar tantos projectos, tantas organizações e tanta dinâmica na região, com protagonistas locais que se fazem ouvir bem longe, a tentar contrariar esta história banal. A OSIENALA, que eu conheço melhor, é disso um excelente exemplo. Lá trabalham mais de 50 pessoas, na maioria jovens, quase todos formados e especializados, assim como vários voluntários, quase todos estudantes, mas que partilham a mesma paixão pela sua terra, indissociável do lago Vitória. Entre todos desenvolvem diversas actividades que incluem a emissão da Radio Lake Vitoria com mais de 3 milhões de ouvintes, que aborda especialmente questões ligadas à sustentabilidade ambiental e à região e que emite também a partir da internet, vários programas de educação ambiental para vários tipos de públicos, programas comunitários para a gestão ambiental e de recursos do lago Vitória em rede e articulados com organizações congéneres no Uganda, na Tanzania, no Burundi e no Ruanda e ainda a promoção de latrinas ecológicas, de campanhas para prevenir o HIV/SIDA, de projectos de reabilitação da paisagem, micro-crédito e empreendedorismo, investigação e consultoria.
A própria OSIENALA que conta com vários doadores e tem uma dimensão apreciável, financia associações e grupos de jovens mais pequenos que desenvolvem projectos de cariz mais local, em toda a região. Um projecto que considero particularmente interessante é, por exemplo, o desenvolvimento da aquacultura como forma de combate à excessiva exploração de recursos piscatórios no lago, com tanques experimentais nas instalações da própria organização e com a criação de infra-estruturas na comunidade e com a comunidade para este tipo de actividade. O eco-turismo e o artesanato (com potencial para vir a obter uma futura certificação de produto do Comércio justo) são outras actividades complementares que tentam dar nova vida ao lago e aos seus habitantes.
E fazem-se ouvir longe e onde é preciso, com representantes em reuniões como a que serviu para preparar a participação do Quénia na Cimeira de Copenhaga e em outras estruturas governamentais onde têm uma forte actividade de advocacy.
As organizações como a OSIENALA e os jovens que as integram são uma luz de esperança e uma força de mudança poderosa, assim como uma fonte de inspiração para todos aqueles que querem mudar o mundo e torná-lo num lugar melhor para todos. Bem hajam!
O grande lago sofre de vários males. Os mais óbvios talvez sejam a pesca excessiva (sobretudo a pesca desregulamentada com recurso a redes demasiado apertadas que capturam peixes em crescimento) e a poluição de origem agro-química e falta de saneamento, tão visível na cidade de Kisumu onde a água é negra e densa. No entanto, há mais ameaças. O lago está infestado por jacintos de água que são alimentados basicamente pelos nitratos usados nos fertilizantes e muitas vezes quando olho para ele parece mais um enorme pasto verde do que um manto de água. O jacinto de água tal como a perca do Nilo são espécies exógenas, introduzidas no lago e que afectam seriamente todo o equilíbrio do ecossistema. Outra ameaça muito séria está relacionada com a destruição e/ou apropriação das zonas húmidas para o cultivo do arroz, uma vez que são estas terras que servem de filtro para o lago. E assiste-se também a um conflito recorrente entre seres humanos e a vida selvagem que culminam no abate de muitos hipopótamos e outras espécies. E a degradação do lago não é alheia às mudanças climáticas, com o nível da água a baixar devido à escassez de chuvas, a malária a aumentar (esta é uma das zonas com maior incidência de malária), intercalando com períodos de cheia que vitimam milhares de pessoas na região. O cenário é negro, a degradação visível a olho nú e o futuro preocupante.
O que eu não esperava, até porque a sociedade civil no Quénia parece-me pouco activa, era encontrar tantos projectos, tantas organizações e tanta dinâmica na região, com protagonistas locais que se fazem ouvir bem longe, a tentar contrariar esta história banal. A OSIENALA, que eu conheço melhor, é disso um excelente exemplo. Lá trabalham mais de 50 pessoas, na maioria jovens, quase todos formados e especializados, assim como vários voluntários, quase todos estudantes, mas que partilham a mesma paixão pela sua terra, indissociável do lago Vitória. Entre todos desenvolvem diversas actividades que incluem a emissão da Radio Lake Vitoria com mais de 3 milhões de ouvintes, que aborda especialmente questões ligadas à sustentabilidade ambiental e à região e que emite também a partir da internet, vários programas de educação ambiental para vários tipos de públicos, programas comunitários para a gestão ambiental e de recursos do lago Vitória em rede e articulados com organizações congéneres no Uganda, na Tanzania, no Burundi e no Ruanda e ainda a promoção de latrinas ecológicas, de campanhas para prevenir o HIV/SIDA, de projectos de reabilitação da paisagem, micro-crédito e empreendedorismo, investigação e consultoria.
A própria OSIENALA que conta com vários doadores e tem uma dimensão apreciável, financia associações e grupos de jovens mais pequenos que desenvolvem projectos de cariz mais local, em toda a região. Um projecto que considero particularmente interessante é, por exemplo, o desenvolvimento da aquacultura como forma de combate à excessiva exploração de recursos piscatórios no lago, com tanques experimentais nas instalações da própria organização e com a criação de infra-estruturas na comunidade e com a comunidade para este tipo de actividade. O eco-turismo e o artesanato (com potencial para vir a obter uma futura certificação de produto do Comércio justo) são outras actividades complementares que tentam dar nova vida ao lago e aos seus habitantes.
E fazem-se ouvir longe e onde é preciso, com representantes em reuniões como a que serviu para preparar a participação do Quénia na Cimeira de Copenhaga e em outras estruturas governamentais onde têm uma forte actividade de advocacy.
As organizações como a OSIENALA e os jovens que as integram são uma luz de esperança e uma força de mudança poderosa, assim como uma fonte de inspiração para todos aqueles que querem mudar o mundo e torná-lo num lugar melhor para todos. Bem hajam!
03/01/10
AFINAL NÃO ERA UM ROCHEDO COM BARRACOS
Eu tinha contado a alguns amigos que ia passar o ano algures numa ilha do Lago Vitória e que não sabia mais nada sobre o lugar ou o programa de festas e que para mim até um rochedo com barracos no meio do lago estava bem, pois pelo menos era uma novidade e cheia de imprevistos.
Na noite anterior dormi em casa das duas amigas alemãs que conhecia e que me convidaram e às 6h da manhã lá chegou o resto do pelotão com viaturas e mantimentos para ficarmos isolados na tal ilha até domingo. Ainda sem cumprimentos e apresentações que os alemães e eu estávamos em modo de recuperação do sistema, lá nos fizemos à estrada acompanhados por um nascer do Sol deslumbrante. Não sei se sabem, mas apenas 6% do Lago Vitória se encontra em águas territoriais do Quénia, confinado a uma baía extensa e pontuado por algumas ilhas antes de se abrir para abraçar a Tanzânia e o Uganda e se perder no horizonte e foi aí que eu fui parar, finalmente e sem contar, àquela parte onde a água cresce e parece mar.
Contornamos a baía de jipe até ao Ferry, depois de Bondo, e atravessamos para Mbita, no extremo Sul da baía. Aí, apanhamos outro barco, agora mais pequeno, deixamos o carro para trás e fizemo-nos ao lago e durante mais de uma hora fomos contornando ilhas até que no extremo, quando já só se via água e céu no horizonte contornamos a ilha à nossa esquerda e o que vimos deixou-nos boquiabertos. Takawiri, a nossa ilha, é um pequeno reduto de pescadores, verde e montanhosa, mas ao virarmos deparámo-nos com um braço de areia branca e palmeiras, emoldurado pelas montanhas a formar uma baía de água calma e transparente. Chegamos ao nosso destino e até podíamos muito bem ter dormido ao relento, cozinhado com fogueiras e tomado banho no lago, mas nem isso; à nossa espera estava um delicioso resort turístico, fechado hà um ano, propriedade da família de um indiano, namorado de uma das meninas alemãs e nosso anfitrião e todinho, todinho só para nós durante quatro dias.
Desembarcamos boquiabertos e alguns só diziam “Eu nunca estive num lugar assim!” (um à parte rápido apenas para explicar que o grupo de alemães era composto por 10 voluntários, que integram várias organizações no Quénia e na Tanzânia, através de um programa do governo alemão, com idades entre os 19 e os 27 anos e para além deles só havia o indiano e eu, os dois mais crescidos). O nosso anfitrião, ainda na praia resolveu fazer um “briefing” (tal e qual!) para nos dar as boas vindas, explicar como ia funcionar a coisa, organizar a escala de cozinheiros (havia empregados à nossa espera mas a cozinha era connosco) e para nos alertar relativamente à vasta colónia de cobras e escorpiões da ilha. Cobras tudo bem…. mas escorpiões!? Comecei a ver o filme: 3 noites sem dormir, o coração a bater estupidamente de cada vez que abro a porta do quarto, a inspecção à cama e o sobressalto a cada barulho mais estranho… sou medricas com a bicharada! Não tenho problema nenhum com animais de grande porte, mas os pequenos, na maioria das vezes dão-me conta dos nervos e agora ainda por cima tinha de encontrar um que nunca vi antes e que vivia na categoria dos mitos horrendos.
Matei o meu primeiro escorpião, no chão do chuveiro do meu quarto, às 19.00 do dia 31 de Dezembro de 2009, na ilha de Takawiri. A electricidade, solar, era muito fraquinha e eu já a pressentir o pior entro na casa de banho também de lanterna em punho a inspeccionar todos os recantos e lá estava ele, preto (descobri depois que também há brancos e que são mais venenosos e matei-os sem qualquer descriminação), grande, feio e com aquele rabo venenoso no ar. Morreu esborrachado pela minha havaina e foi pelo ralo abaixo. Como tudo na vida, a gente habitua-se e para o fim a coisa já não me impressionava e já nem pensava neles. Apareciam no meu horizonte visual, quinavam e eu continuava com a minha vidinha de banhos e sol e dança e muito rir.
A passagem do ano propriamente dita foi indescritível… eu vou tentar, mas eu sei que não vou chegar nem perto do que realmente aconteceu. Jantamos principescamente, tudo acompanhado por um belíssimo tinto chileno e no final, preparamos cocktails e fomos para a praia em frente, onde uma enorme fogueira rodeada de cadeiras esperava por nós. No céu a lua cheia brilhava e, sem uma única nuvem no horizonte enchia de luz a última noite do ano. Era como se fosse dia mas com a luz banca intensa a pratear o mar e a areia branca. Nunca tinha visto nada assim! Como se não bastasse, a ilha é um verdadeiro santuário de pássaros e a sinfonia é absolutamente fantástica, misturada com os outros músicos da noite como os sapos e os morcegos. Parecia uma noite mágica, encantada, irreal e nós, à volta da fogueira cantávamos canções de Natal, entrecaladas aqui e ali por algumas dos Beatles (não me perguntem porquê). Não sei muito bem quando chegou a meia noite. Ninguém tinha relógios, nem telemóveis (não havia rede na ilha), nem interesse nesses pormenores e por isso quando achamos que era boa altura brindamos ao Ano Novo com uma bebida de cor radioactiva, abraçamo-nos e desejamos um mundo de coisas boas uns aos outros e continuamos a celebrar o novo ano quase até ao amanhecer. Não conseguíamos sair da praia e por lá ficamos, ao Luar, a rir, a brincar, outras vezes em silencio a ouvir os pássaros e a olhar a paisagem e houve até quem fosse a banhos, que a noite estava quente e a água convidativa. Foi uma noite linda!
Os dias seguintes foram dias de preguiça, encantamento e boa disposição. Tivemos aulas de dança com especialistas em danças de salão, tivemos campeonatos de bilhar competitivos, tivemos até rabanadas nos trópicos numa das noites, dançamos as músicas mais pirosas das décadas de 80 e 90 e fizemos festas até de manhã, onde até os guardas e os empregados se juntavam a nós para dançar.
Depois de um início de ano assim, eu estou serenamente à espera para ver o que o resto do ano me reserva. E estou optimista!
P.S. Hoje a minha irmã faz anos e eu muito gostava de poder partilhar estas e outras experiências com ela... jà falta pouco :). Não te preocupes que eu trato de exterminar a bicharada antes de chegares. Parabéns e um beijinho enorme cheio de saudades!
Na noite anterior dormi em casa das duas amigas alemãs que conhecia e que me convidaram e às 6h da manhã lá chegou o resto do pelotão com viaturas e mantimentos para ficarmos isolados na tal ilha até domingo. Ainda sem cumprimentos e apresentações que os alemães e eu estávamos em modo de recuperação do sistema, lá nos fizemos à estrada acompanhados por um nascer do Sol deslumbrante. Não sei se sabem, mas apenas 6% do Lago Vitória se encontra em águas territoriais do Quénia, confinado a uma baía extensa e pontuado por algumas ilhas antes de se abrir para abraçar a Tanzânia e o Uganda e se perder no horizonte e foi aí que eu fui parar, finalmente e sem contar, àquela parte onde a água cresce e parece mar.
Contornamos a baía de jipe até ao Ferry, depois de Bondo, e atravessamos para Mbita, no extremo Sul da baía. Aí, apanhamos outro barco, agora mais pequeno, deixamos o carro para trás e fizemo-nos ao lago e durante mais de uma hora fomos contornando ilhas até que no extremo, quando já só se via água e céu no horizonte contornamos a ilha à nossa esquerda e o que vimos deixou-nos boquiabertos. Takawiri, a nossa ilha, é um pequeno reduto de pescadores, verde e montanhosa, mas ao virarmos deparámo-nos com um braço de areia branca e palmeiras, emoldurado pelas montanhas a formar uma baía de água calma e transparente. Chegamos ao nosso destino e até podíamos muito bem ter dormido ao relento, cozinhado com fogueiras e tomado banho no lago, mas nem isso; à nossa espera estava um delicioso resort turístico, fechado hà um ano, propriedade da família de um indiano, namorado de uma das meninas alemãs e nosso anfitrião e todinho, todinho só para nós durante quatro dias.
Desembarcamos boquiabertos e alguns só diziam “Eu nunca estive num lugar assim!” (um à parte rápido apenas para explicar que o grupo de alemães era composto por 10 voluntários, que integram várias organizações no Quénia e na Tanzânia, através de um programa do governo alemão, com idades entre os 19 e os 27 anos e para além deles só havia o indiano e eu, os dois mais crescidos). O nosso anfitrião, ainda na praia resolveu fazer um “briefing” (tal e qual!) para nos dar as boas vindas, explicar como ia funcionar a coisa, organizar a escala de cozinheiros (havia empregados à nossa espera mas a cozinha era connosco) e para nos alertar relativamente à vasta colónia de cobras e escorpiões da ilha. Cobras tudo bem…. mas escorpiões!? Comecei a ver o filme: 3 noites sem dormir, o coração a bater estupidamente de cada vez que abro a porta do quarto, a inspecção à cama e o sobressalto a cada barulho mais estranho… sou medricas com a bicharada! Não tenho problema nenhum com animais de grande porte, mas os pequenos, na maioria das vezes dão-me conta dos nervos e agora ainda por cima tinha de encontrar um que nunca vi antes e que vivia na categoria dos mitos horrendos.
Matei o meu primeiro escorpião, no chão do chuveiro do meu quarto, às 19.00 do dia 31 de Dezembro de 2009, na ilha de Takawiri. A electricidade, solar, era muito fraquinha e eu já a pressentir o pior entro na casa de banho também de lanterna em punho a inspeccionar todos os recantos e lá estava ele, preto (descobri depois que também há brancos e que são mais venenosos e matei-os sem qualquer descriminação), grande, feio e com aquele rabo venenoso no ar. Morreu esborrachado pela minha havaina e foi pelo ralo abaixo. Como tudo na vida, a gente habitua-se e para o fim a coisa já não me impressionava e já nem pensava neles. Apareciam no meu horizonte visual, quinavam e eu continuava com a minha vidinha de banhos e sol e dança e muito rir.
A passagem do ano propriamente dita foi indescritível… eu vou tentar, mas eu sei que não vou chegar nem perto do que realmente aconteceu. Jantamos principescamente, tudo acompanhado por um belíssimo tinto chileno e no final, preparamos cocktails e fomos para a praia em frente, onde uma enorme fogueira rodeada de cadeiras esperava por nós. No céu a lua cheia brilhava e, sem uma única nuvem no horizonte enchia de luz a última noite do ano. Era como se fosse dia mas com a luz banca intensa a pratear o mar e a areia branca. Nunca tinha visto nada assim! Como se não bastasse, a ilha é um verdadeiro santuário de pássaros e a sinfonia é absolutamente fantástica, misturada com os outros músicos da noite como os sapos e os morcegos. Parecia uma noite mágica, encantada, irreal e nós, à volta da fogueira cantávamos canções de Natal, entrecaladas aqui e ali por algumas dos Beatles (não me perguntem porquê). Não sei muito bem quando chegou a meia noite. Ninguém tinha relógios, nem telemóveis (não havia rede na ilha), nem interesse nesses pormenores e por isso quando achamos que era boa altura brindamos ao Ano Novo com uma bebida de cor radioactiva, abraçamo-nos e desejamos um mundo de coisas boas uns aos outros e continuamos a celebrar o novo ano quase até ao amanhecer. Não conseguíamos sair da praia e por lá ficamos, ao Luar, a rir, a brincar, outras vezes em silencio a ouvir os pássaros e a olhar a paisagem e houve até quem fosse a banhos, que a noite estava quente e a água convidativa. Foi uma noite linda!
Os dias seguintes foram dias de preguiça, encantamento e boa disposição. Tivemos aulas de dança com especialistas em danças de salão, tivemos campeonatos de bilhar competitivos, tivemos até rabanadas nos trópicos numa das noites, dançamos as músicas mais pirosas das décadas de 80 e 90 e fizemos festas até de manhã, onde até os guardas e os empregados se juntavam a nós para dançar.
Depois de um início de ano assim, eu estou serenamente à espera para ver o que o resto do ano me reserva. E estou optimista!
P.S. Hoje a minha irmã faz anos e eu muito gostava de poder partilhar estas e outras experiências com ela... jà falta pouco :). Não te preocupes que eu trato de exterminar a bicharada antes de chegares. Parabéns e um beijinho enorme cheio de saudades!
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