A conclusão tranquilizadora de que mudar e experimentar coisas novas ajuda a resolver quase tudo.
E a certeza de que o mundo é um lugar plural e diverso e que aí reside toda a sua beleza e encanto.
A contadora de histórias deste blogue está a viver no Quénia e já passou por outros lugares em África. As histórias são muitas. Histórias sobre o que cá se passa, sobre o que vivo e o que sinto e de vez em quando, histórias mais sérias sobre a realidade do país e da região.
A conclusão tranquilizadora de que mudar e experimentar coisas novas ajuda a resolver quase tudo.
E a certeza de que o mundo é um lugar plural e diverso e que aí reside toda a sua beleza e encanto.
É o parque natural mais famoso do Quénia e um nome que nos transporta imediatamente para a África dos safaris (no verdadeiro sentido da palavra, uma vez que safari significa viagem em Swahili) e da vida selvagem.
Já lá fui duas vezes. A primeira experiência foi má. Não gostei. A segunda foi uma surpresa, um incidente que colocou o Mara no meu mapa dos afectos para sempre.
Como quase tudo na vida, o resultado final depende de nós, do nosso estado de espírito, da nossa abertura a desafios, da forma como lidamos com a vida... no entanto, quando se trata de um safari
Para mim é um facto que o parque está sobrevalorizado na bolsa turística, é o paradigma do safari de massas, é inexplicavelmente caro e alguns acessos são tão maus que podem estragar o espírito para a viagem antes de lá se chegar. Sobretudo a estrada de Narok, a mais usada, que liga Nairobi ao parque, representa horas e horas de buracos, pó, mais pó e mais buracos e uma viagem penosa e desmotivadora. Isto num país que, para os padrões africanos, até tem estradas decentes e naquele que é o itinerário mais usado pelo turismo, a indústria mais importante do país. Não se percebe muito bem!
Mas adiante... vamos aos aspectos mágicos e inesquecíveis e a algumas dicas para evitar os piores.
O parque de Masai Mara, no sudoeste do Quénia está ligado ao Serengeti, na Tanzania. Basicamente trata-se de dois nomes diferentes para designar uma mesma coisa, que por acaso (ou nem por isso) tem uma fronteira pelo meio e administrações diferentes e nacionalidades diferentes. Ora, nós sabemos isso, a fronteira está lá para toda a gente ver no meio da savana, mas os animais selvagens não sabem e não havendo forma de lhes ensinar coisas tão importantes como o patriotismo, o respeito pelas leis fronteiriças ou o ódio reciproco por terem pertenças territoriais diferentes, eles passeiam-se de um lado para o outro, como sempre fizeram, ignorando as fronteiras dos homens e seguindo apenas os seus instintos de sobrevivência. Esta indisciplina animal dá origem ao mais extraordinário espectáculo do parque: a grande migração, quando milhões de animais circulam entre o Serengeti e o Masai Mara, em busca de água, de alimentos, para acasalar ou para parir.
É fascinante a quantidade de animais que se podem facilmente ver de um lado para o outro durante um pequeno passeio no parque. Então se tivermos um bom guia, que conheça o parque e saiba em que zonas estão as diferentes espécies, o espectáculo é garantido.
A minha segunda visita ao Mara foi inesperada. Um belo jantar em Kisumu, junto ao lago Vitória, uns amigos em férias a conhecer o Quénia, a vontade de ir ao Mara, uma pergunta inocente ao gerente do resort “Vocês organizam safaris?”, um telefonema a um amigo dele que aluga viaturas e quando damos conta tínhamos marcado uma visita de doidos ao Masai Mara, por um preço inacreditável para dois dias depois.
Saída às 5 da manhã, 5h de viagem, por Kisii e através de vales e montanhas verdes. Uma boa estrada que se transforma em picada (e em ringue de lutas na lama se chover, como pudemos verificar no regresso!) nos últimos quilómetros. Chegamos ao Mara a meio da manhã e ficamos sem fôlego quando avistamos a imensidão da savana do topo de uma montanha depois de atravessar uma das regiões mais verdes do país. Lembro que a savana fica a 2000m de altitude e que portanto, nós estávamos bem mais altos. Não há fotografias que façam justiça ao impacto desta paisagem. O horizonte a perder de vista, a savana pintada de mil tons de ocre e amarelo pontuada por pequeninas manchas escuras, que são as acácias, o silêncio imponente, o céu sem fim e aquela sensação de pequenez que nos faz tanta falta, que não quer dizer que somos insignificantes, mas apenas que somos parte integrante de algo bem maior. É maravilhoso!
Chegados à entrada do parque e depois de desembolsar $60 cada estrangeiro e 1000Ksh (cerca de 10 euros) cada residente, que foi o meu caso (apesar de não ser verdade) porque um dos guardas não me queria fazer desconto de estudante e o outro simpatizou comigo e acabou por fazer ainda mais, o desconto de residente, achamos por bem contratar os serviços de um ranger do parque para nos guiar. É a melhor solução e a mais barata. Alugar um carro todo o terreno com motorista e depois no parque os serviços de um ranger, (a partir de 15 euros) que conhece o território e os animais como ninguém.
Depois é um desfilar interminável de espécies, paisagens, emoções e Masai Mara conquista-nos para sempre. E se juntarmos à experiência uma visita a uma aldeia Masai, um dos povos mais emblemáticos do Quénia, nativos da região, que vivem em harmonia com a savana e que andam a ser empurrados de um lado para o outro, em reservas inventadas desde que Masai Mara passou a servir o turismo, temos a cereja em cima do bolo e a garantia de uma experiência absolutamente inesquecível. Claro que como tudo no Quénia, tem um preço. É preciso negociar a entrada com o chefe da aldeia. A mim parece-me mais que justo! Afinal os Masai, que são o povo da savana, são os que menos ganham com a indústria turística e os que mais sofrem por causa dela.